Um movimento internacional, envolvendo seis países europeus e,
especialmente, 50 cidades do Brasil pretende por um basta na vivissecção
(experiências com animais em laboratórios) e contra a venda de 300 mil
jumentos por ano que Brasil quer vender para China. |
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O evento na Capital está sendo organizado pela presidente da União
Internacional Protetora dos Animais (Uipa/CE), Geuza Leitão. Na sua
opinião, a cidade tem o compromisso de fazer uma mobilização exemplar,
haja vista toda a relação emocional com o jumento, que é tema de
poesias, crônicas e romances, permeando obras do padre Antônio Vieira, o
poeta Patativa do Assaré, José Clementino e o cantor Luis Gonzaga.
"Nosso objetivo é reunir o maior número de pessoas contra essa prática
terrível que é a vivissecção e, sobretudo, contra a exportação de
jumentos brasileiros para a China que esbarra, inclusive, em questões
legais", afirma Geuza.
Ela informou que o movimento já conta um abaixoassinado com mais de 20
mil assinaturas e o protesto acontecerá simultaneamente em cidades de
países da França, Inglaterra, Escócia, Alemanha, Irlanda e Portugal.
Na ocasião, os manifestantes levarão faixas, cartazes, banners, caixa
de som para protestarem com palavras de ordem, distribuição de material
educativo, guardas municipais e duas tendas darão apoio, distribuição de
jornalzinho mensal da Uipa, alusão aos defensores dos jumentos já
falecidos, bem como exposição de material da Uipa.
"É um movimento que mexe com os nossos laços regionais e, sobretudo,
com a sensibilidade com relação aos maus tratos. Nosso foco principal é
anular esse acordo que visa a venda de 300 mil jumentos por ano para
China, destinados ao consumo da carne e para vivisseção (experiências de
animais vivos em laboratórios) para indústria de cosméticos", afirmou
Geuza.
Apesar da afirmação de que exportação está baseada em um acordo
bilateral assinado pelo governo brasileiro e chinês, ainda não há
nenhuma comprovação nesse sentido, conforme afirma o presidente da
Comissão de Agricultura e Pecuária na Câmara Federal, deputado Raimundo
Gomes de Matos (PSDB/CE).
Audiência
"Não podemos acreditar que tudo não passe de uma invenção. No entanto,
vamos buscar provas, inclusive documentações que possam viabilizar uma
audiência pública e questionar o Executivo sobre a iniciativa", afirmou
Gomes de Matos.
Ele disse que a movimentação no Legislativo em Brasília é de
expectativa, porque até o momento não houve nenhuma manifestação do
Governo Federal. No entanto, ressaltou que deverá questionar os
Ministérios da Indústria e Comércio, Relações Exteriores e da
Agricultura sobre em que nível se encontra esse suposto acordo.
"Nossa posição é totalmente contrária e estarei presente à manifestação
do próximo sábado. No entanto, queremos que haja um documento que nos
leve a articular a audiência e assim impedir, baseado em normas
constitucionais, o envio de jumentos para o exterior, quer para fins de
alimentos, ou para uso na indústria e com objetivos científicos",
salientou o parlamentar.
Raimundo Gomes disse que é conhecedor sobre o desuso dos jumentos no
Nordeste, com o advento do progresso. O animal é hoje considerado um
"inimigo", conforme frisou, para alguns proprietários de terra, uma vez
que chegam a destruir cercas e até disseminar alguns tipos de doenças
entre os rebanhos.
No entanto, lembrou que há na Câmara Federal parlamentares que já se
posicionaram contrários a esse acordo, levando em conta o bom senso e a
coerência de se evitar os maus tratos. Dentre esses, destaca o deputado
federal Ricardo Tripoli (PSDB/SP), o primeiro a se pronunciar contrário
ao acordo bilateral com a China, e Chico Lopes (PCdoB/CE).
"Estamos lutando para que o Ministério da Agricultura, do Meio
Ambiente, o Congresso Nacional, ou quem quer que tenha competência no
Brasil, para vetar essa carnificina. Os jumentos sempre foram
verdadeiros companheiros do povo nordestino", afirma Geuza.
A presidente da Uipa/CE, lamenta que, hoje, o jumento é considerado
imprestável e sem valor econômico. Desse modo, a saída seria se livrar a
qualquer custo, inclusive quando se encontra um País disposto a pagar
pelo produto que é tido como um problema, principalmente, nas estradas
nordestinas.
"Considero que a melhor alternativa para os outros Estados nordestinos é
fazer como o Ceará, que destina os animais apreendidos para a Fazenda
Paula Rodrigues, em Santa Quitéria, no Sertão Central", avalia ela.
"Trata-se de uma imensa propriedade, mas o Estado vem sendo responsável
em suprir com água e alimentos os bichos apreendidos. Isso também
poderia acontecer em outras localidades nordestinas e não promover uma
matança, que poderá levar a extinção da espécie", denuncia a presidente
da Uipa/CE.
Segundo Geuza, o Brasil não pode vender o que não lhe pertence, pois o
jumento faz parte da fauna e de acordo com a lei, todos os animais
existentes no País são tutelados do Estado. Portanto o poder público é
tutor dos animais e, como tal, tem o dever de protegê-los e não se
locupletar com a venda do nosso jumento para outro País, especialmente
com a abominável destinação, ou seja, morte e cobaias em mesas de
laboratórios.
A própria Constituição da República Brasileira determina ser dever do
poder público proteger a fauna e a flora, vedadas na forma da lei
práticas que provoquem a extinção da espécie ou submetam animais à
crueldade.
FIQUE POR DENTRO
Bichos sem dono são destinados para fazenda
Por mês, a média mensal de animais apreendidos em rodovias estaduais é
de 1.152. Segundo o gerente das Unidades Regionais do Departamento
Estadual de Trânsito (Detran/CE), João Carlos Macedo Costa, estavam
recolhidos na Fazenda Dr. Paula Rodrigues até o dia 31 do mês passado,
8.824 que foram apreendidos e não procurados pelos seus proprietários.
O Custo mensal da fazenda é de R$ 366.160,00, somando as despesas com
apreensão, alimentação, serviços veterinários e manutenção.
Boa parte dos bichos recolhidos na fazenda são jumentos, e que também
estão no topo entre os que causam acidentes nas estradas. Muitos chegam
doentes e mesmo assistidos por veterinários contratados pelo governo
morrem em pouco tempo.
De acordo com a Lei nº 13.045, os animais podem ser doados a hospitais
públicos, escolas públicas, entidades filantrópicas, escolas agrícolas
públicas, associações comunitárias, órgãos públicos que manifestarem
interesse. Mesmo assim, a experiência cearense é vista como um modelo
para outros Estados, que não contam sequer com um destino mais sensível
com a sobrevida dos jumentos e outros bichos
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domingo, 22 de abril de 2012
Europa se solidariza contra exportação de jumentos para a China
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