Braço robótico e injeções na medula reativaram os movimentos.
Não há comprovação que método usado funciona em humanos.
Camundongos com lesões na medula espinhal e com paralisia das pernas conseguiram andar e mesmo correr graças a um experimento realizado pela Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL, na sigla em francês), na Suíça. O estudo foi publicado nessa quinta-feira (31) na revista científica “Science”.
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A medula é a parte do nosso sistema nervoso central que transporta as
informações de sensibilidade, movimento, controle do intestino e bexiga
do cérebro ao resto do corpo e vice-versa. Parte dela fica protegida na
coluna vertebral. Quando acontece alguma lesão nessa estrutura óssea,
parte desses estímulos é interrompida e, como consequência, pode haver a
perda de movimentos de membros inferiores e superiores.
Camundongo
dá os primeiros passos depois de se submeter a um experimento que
combinou um braço mecânico com estimulação eletroquímica (Foto:
EPFL/Grégoire Courtine)
Ao usarem injeções que estimulavam os neurônios responsáveis pelos
movimentos e um braço mecânico que ajudava os camundongos a caminhar, os
cientistas conseguiram fazer os roedores voltarem a andar, explicou o
autor do estudo Grégoire Courtine, da EPFL.
“Depois de duas semanas de neuroreabilitação com uma combinação de
armadura robótica e estimulação eletroquímica, nossos camundongos não
estavam somente começando a andar, mas andando em marcha e logo
começaram a correr, subir escadas e pular obstáculos”, disse Courtine.
A partir dessa observação, a pesquisa da EPFL sugere que, dentro de
certas condições, a recuperação podem ocorrer até em casos de lesões
severas.
Para fazer isso, a equipe de Courtine injetou uma solução química nas
veias dos camundongos que desencadeou respostas celulares, como a
ligação da dopamina, adrenalina e receptores de serotonina localizados
nos neurônios. Esse coquetel agiu para excitar neurônios a coordenar o
movimento inferior do corpo.
Depois de cinco a dez minutos da injeção, os cientistas submeteram os
roedores a estímulos elêtricos na medula espinhal, usando eletrodos
implantados em uma camada exterior do canal espinhal.
“Essa estimulação envia sinais elétricos contínuos entre as fibras dos
nervos para quimicamente excitar os neurônios que controlam o movimento
da perna”, explicou Rubia van den Brand, uma das autoras do estudo.
Outro teste, baseado em uma experiência anterior, trocou antigas
esteiras por um dispositivo robótico que dava a sensação de equilíbrio
aos roedores sem os movimentos das pernas.
O resultado de uma rotina de treinos com o dispositivo foi
surpreendente: houve um crescimento das fibras nervosas no cérebro e na
medula espinhal, o que contribuiu para que os camundongos voltassem a se
movimentar.
“O que eles consideravam como um treinamento baseado na força de
vontade foi traduzido em um aumento de quatro vezes nas fibras nervosas
do cérebro e na espinha, que comprova o enorme potencial de
neuroplasticidade mesmo após a lesão grave do sistema nervoso central”,
disse Janine Heutschi, outra autora do estudo.
Segundo os estudiosos, no entanto, ainda não há comprovação de que o método usado funcionaria em humanos